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Empregos capengas
Por VICENTE NUNES
Os bicos têm garantido a renda de diversas famílias e proporcionado uma falsa sensação de melhora da situação da economia do país
A queda do desemprego, comemorada pelo governo e por diversos economistas, precisa ser analisada com lupa. Ela é sustentada, sobretudo, pela necessidade dos brasileiros de manter as contas em dia. Com isso, muitos se submetem a condições de trabalho precárias, sem qualquer segurança ou estabilidade. Os bicos têm garantido a renda de diversas famílias e proporcionado uma falsa sensação de melhora da situação da economia do país. Não podemos ignorar o fato, por exemplo, de milhares de servidores públicos e aposentados que não recebem em dia.
Vale lembrar que, sem carteira assinada, o trabalhador perde a possibilidade de receber benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em caso de acidente de trabalho ou invalidez. Além disso, o recebimento do seguro- desemprego fica inviabilizado. Muita gente resolveu sair da zona de conforto e tentar empreender. Mas ainda é cedo para dizer se essa mudança do perfil do mercado de trabalho se concretizará. No fim das contas, a abertura de vagas formais só ocorrerá a partir da retomada dos investimentos. O pacote de concessões tem potencial para alavancar a economia, gerar emprego e renda. Entretanto, ainda engatinha.
E esse processo depende exclusivamente de dois fatores: a estabilidade política e a econômica. O governo, mesmo abatido pela crise, tem dado
demonstrações de força para resolver questões de curto prazo. Deve alterar as metas fiscais de 2017 e 2018, além de aprovar parte do saco de maldades para reduzir despesas com servidores. Entretanto, a reforma da Previdência, essencial para que o país reequilibre as finanças públicas a longo prazo, continua engavetada. E a cada nova denúncia da Operação Lava-Jato, ganha mais força a tese de que a revisão das regras para concessão de benefícios do INSS terá de ser feita pelo próximo governo.
A sucessão dos rombos fiscais, inclusive, ameaça o processo de queda de juros. O Comitê de Política Monetária (Copom) deve reduzir a taxa em um ponto percentual, para 8,25% ao ano, na reunião marcada para 5 e 6 de setembro. Entretanto, a equipe de Ilan Goldfajn tem sido alertada reservadamente para o risco de que a Selic tenha que voltar a subir caso o reequilíbrio nas contas públicas não passe de um protocolo de intenções.
Isso faria ruir qualquer possibilidade de recuperação econômica. O país continua a conviver com crise. O risco é de que se torne crônica e permanente. As próximas semanas tendem a ser agitadas, já que os servidores públicos prometeram ir para as ruas protestar contra a proposta de adiamento dos reajustes salariais acordados e aprovados no Congresso Nacional.
Alento
Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, no trimestre de maio a julho de 2017, havia 13,3 milhões de pessoas desocupadas no Brasil - uma redução de 722 mil em relação ao trimestre de fevereiro a abril. Naquela época, 14 milhões de brasileiros estavam desempregados. Em relação ao mesmo período do ano passado, o percentual de desocupados subiu 12,5%, um adicional de 1,5 milhão de pessoas fora da força de trabalho.
Apesar do aumento, a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Marzola Zara, avalia que, na margem, o movimento é benigno, ainda mais considerando que a taxa de participação atingiu 61,8%, recorde histórico. "Isso mostra que há muitas pessoas buscando trabalho. Assim, a queda na margem da taxa de desocupação decorre de genuíno aumento da população ocupada. Bom sinal para a recuperação da atividade econômica", destaca.
Além disso, Thaís comenta que 190 mil pessoas foram adicionadas à força de trabalho. Os dados do IBGE apontam que esse movimento decorre do aumento dos empregados no setor privado sem carteira de trabalho assinada (+566 mil), empregadores ( 422 mil), bem como empregados do setor público ( 193 mil) e trabalhadores familiares auxiliares ( 119 mil). "Revisamos nossa expectativa para a taxa de desocupação no terceiro trimestre do ano para 12,4%. No ano, nossa expectativa é de que a média da taxa de desocupação atinja 12,8%. Para 2018, a perspectiva é de continuidade da melhora, com a taxa rumando a 11,6% na média do ano", diz.
Contas em dia
» Com o maior rigor dos bancos na concessão de crédito, os brasileiros têm recorrido a linhas de financiamentos com garantia para pagar as contas. Dados do Itaú Unibanco apontam aumento na procura por antecipação de 13º salário. Entre março e julho, o crescimento foi de 26% no volume em relação ao mesmo período de 2016. A quantidade de contratos aumentou 35% na mesma comparação.
Momentos de agonia
» Em tom de brincadeira, o presidente do Senado Federal, Eunício Oliveira (PMDB-CE), afirmou que colocaria em votação somente na quarta-feira a Medida Provisória nº 777, que cria a Taxa de Longo Prazo (TLP). Questionado se a decisão era arriscada, ele deu uma gargalhada. "O governo judia bastante da gente no Congresso. Vamos judiar um pouco deles também", disse. O texto deve ser apreciado na terça-feira pelos parlamentares.
Fonte Correio Braziliense
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