Comunicação > Notícias
Melhora na indústria e o dinamismo econômico no 1º trim/24
Carta IEDI
Edição 1265
Sumário
Na passagem de fev/24 para mar/24, diferentemente do que tem sido mais frequente nos últimos tempos, a indústria liderou o dinamismo da atividade econômica ao registrar, já descontados os efeitos sazonais, alta de +0,9%, puxada por um movimento de fortalecimento da produção da indústria de transformação.
Os demais grandes setores da economia tiveram uma performance inferior. O faturamento do setor de serviços ficou no azul (+0,4%, com ajuste), mas a intensidade do crescimento não compensou nem metade do declínio anterior (-0,9%). Já as vendas do varejo ficaram estáveis em seu conceito restrito (0%) e declinaram -0,3% em seu conceito ampliado, que incluir os ramos de veículos, autopeças, material de construção e atacarejo.
Esta acomodação dos serviços e o declínio do varejo pesaram mais do que a expansão da indústria, de modo que o indicador IBC-Br do Banco Central, que funciona como uma proxy do PIB, variou -0,34%, com ajuste sazonal. Foi o primeiro sinal negativo desde out/23 na comparação com o mês imediatamente anterior.
Como o IEDI vem apontando, o contexto industrial neste início de ano apresenta progressos em comparação com a trajetória recente. Uma boa notícia para a indústria é que os resultados dos últimos meses foram revisados para cima na última divulgação do IBGE: redução da queda de jan/24 de -1,5% para -1,1% e mudança de sinal em fev/24, de -0,3% para +0,1%, sempre com ajuste sazonal.
Apesar disso, já se avistam incertezas e obstáculos à frente. E não só para a indústria, vale dizer. Podemos destacar as preocupações da autoridade monetária com um processo de desinflação mais lento do que o esperado, o que levou à redução do tamanho do corte da Selic de 0,5 p.p. para 0,25 p.p. na reunião de início de mai/24. E ainda mais imediato, o choque adverso derivado do desastre climático no Rio Grande do Sul.
Por enquanto, os dados oficiais não refletem estes fatores, de modo que no acumulado do 1º trim/24 todos os grandes setores apresentaram expansão em comparação com um ano atrás, levando o indicador IBC-Br a registrar uma alta de +1,04%, em linha com o dinamismo médio da segunda metade do ano passado (+1,26% na comparação interanual).
O desempenho na entrada de 2024 tem motivado revisões para cima do PIB brasileiro de 2024. Em abr/24, o FMI estimou expansão de +2,2%, isto é 0,5 p.p. acima de sua projeção de jan/24. Em mai/24, a OCDE atualizou o resultado do PIB brasileiro para +1,9%, ou 0,1 p.p. acima de seu cenário de fev/24. Já o Ministério de Fazenda, em meados de mai/24, subiu sua projeção para 2024 de +2,2% para +2,5%.
No 1º trim/24, a indústria como um todo registrou +1,9% frente ao 1º trim/23, dando sequência à evolução positiva recobrada no último trimestre de 2023 (+1,1%) e agora com maior vigor. Houve expansão em 3 dos seus 4 macrossetores, em 64% de seus ramos e em 89% dos parques industriais regionais.
O setor industrial, que vinha apresentando uma performance inferior no ano passado, é agora aquele que apresenta uma trajetória trimestral mais clara de aceleração e deixou de ter o resultado mais fraco dentre os setores aqui analisados. Importante observar que as bases de comparação ajudam, pois 2023 não foi um ano favorável para o setor.
Os serviços, por sua vez, seguem em moderação. No 1º trim/24, seu faturamento real cresceu +1,2%, interrompendo a desaceleração trimestral que vinha apresentando e que levara o setor ao negativo no 4º trim/23 (-0,5%). Ainda assim, o setor ficou aquém do desempenho da indústria e encontra-se em um quadro bem diferente do 1º trim/23, quando avançou +5,5%, sempre na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Embora 3 dos 5 ramos acompanhados pelo IBGE tenham se saído melhor no 1º trim/24 do que no 4º trim/23, o resultado geral do setor foi revigorado devido principalmente aos serviços de informação e comunicação (+5,5%), que representam quase ¼ do faturamento total dos serviços.
Também merece destaque o ramo de outros serviços, que congrega um conjunto diversificado de atividades. Neste caso, a queda considerável de -4,4% no 4º trim/23 deu lugar a uma expansão de +1,5% no 1º trim/24, alavancada por serviços imobiliários (+4,1%) e serviços financeiros (+1,7%).
Quanto ao varejo, a alta do 1º trim/24 frente ao 1º trim/23 foi a mais intensa desde que o setor voltou ao azul e isso tanto em seu conceito restrito (+5,9%) como em seu conceito ampliado (+4,6%). A título de comparação, o desempenho no 4º trim/23 foi de +1,3% e +2,6%, respectivamente.
O ponto de atenção é que este crescimento esteve muito concentrado. No 1º trim/24, apenas 4 dos 11 ramos do varejo acompanhados pelo IBGE na comparação interanual (ou 36% deles) conseguiram ampliar vendas, tendo sido a menor parcela no positivo desde o final de 2022, quando o varejo parou de cair. No 4º trim/23, 8 ramos tinham crescido.
Dois ramos foram decisivos para esta evolução agregada: supermercados, alimentos, bebidas (+8,0% ante jan-mar/23) e veículos e autopeças (+9,4%), que juntos foram responsáveis quase que integralmente pela expansão do varejo neste primeiro quarto do ano.
Indústria
Na passagem de fev/24 para mar/24, a indústria brasileira em seu agregado voltou a ampliar produção (+0,9%), já corrigidos os eventuais efeitos sazonais, em uma trajetória de ganho de robustez. Entretanto, muito disso foi muito concentrado em poucos de seus ramos (21% deles) e em um número minoritário de parques regionais (33%).
No acumulado do 1º trim/23, por sua vez, o desempenho além de positivo e mais robusto, como veremos a seguir, também se mostrou mais espalhado entre as diferentes atividades industriais e seus parques regionais.
Em resumo, como o IEDI apontou em outras oportunidades, o contexto industrial neste início de ano apresenta progressos em comparação com trajetória passada do setor, mas apesar disso, há incertezas e obstáculos à frente. E não só para a indústria, vale dizer.
Podemos destacar as preocupações da autoridade monetária com um processo de desinflação mais lento do que o esperado, o que levou à redução do tamanho do corte da Selic de 0,5 ponto percentual para 0,25 p.p. na reunião de início de mai/24. Melhores condições de financiamento, com juros mais baixos, são importantes para dinamizar mercados de bens duráveis para consumo e para investimento, tanto as vendas de varejo, como sua produção industrial.
E ainda mais imediato, o choque adverso derivado do desastre climático no Rio Grande do Sul sobre a produção industrial do estado, que vinha pegando tração, mas também sobre o agregado nacional, em função do peso da indústria gaúcha, mas também de suas ligações com outros parques regionais.
Por enquanto, os dados oficiais não refletem estas contratendências e no acumulado do 1º trim/24, a indústria como um todo registrou +1,9% frente ao mesmo período do ano anterior, dando sequência à evolução positiva recobrada no último trimestre de 2023 (+1,1%) com maior vigor. Houve expansão em 3 dos seus 4 macrossetores, em 64% de seus ramos e em 89% dos parques regionais.
A produção de bens de capital foi a única a recuar em jan-mar/24 (-1,6%), mas caiu muito menos do que vinha caindo. A produção de bens de capital para a própria indústria, que estava no vermelho desde o final de 2021, dando uma sinalização adversa para o investimento no setor, também melhorou e se aproximou muito da estabilidade: -0,2% ante jan-mar/23. O que é um indicativo de dias melhores para o segmento.
Bens de consumo duráveis (+0,8%) também apresentaram progressos, retornando ao azul, após recuos sucessivos na segunda metade de 2023. Foram importantes para isso o crescimento da produção de eletrodomésticos e a amenização da perda da indústria automobilística.
Já bens intermediários se destacam pela manutenção do seu ritmo de crescimento na virada do ano, com alguma aceleração (+2,4% no 4º trim/23 e +2,7% no 1º trim/24) e bens de consumo semi e não duráveis seguiram se expandindo, embora tenham sido o único macrossetor com redução de dinamismo (+2,8% em out-dez/23 para +1,6% em jan-mar/24).
Regionalmente, quase todos os parques industriais ampliaram produção no
1º trim/24, na comparação com o 1º trim/23. As exceções foram duas:
Pernambuco (-0,1%), devido a alimentos, bebidas, químicos e metalurgia, e
Paraná (-1,9%), com queda intensa no ramo automobilístico e de máquinas
e equipamentos.
Entre aqueles que ficaram no positivo no 1º trim/24, 39% apresentaram um resultado melhor do que o do último trimestre de 2023, acompanhando assim a evolução do total nacional. Neste grupo, os destaques cabem à indústria paulista (-0,9% no 4º trim/23 e +2,1% no 1º trim/24) e à indústria gaúcha (-3,9% e +3,0%, respectivamente).
No caso de São Paulo, 44% dos seus ramos industriais ampliaram produção em jan-mar/24, com altas mais intensas em bebidas, máquinas e aparelhos elétricos e derivados de petróleo. No caso do Rio Grande do Sul, o sinal positivo marcou 43% de seus ramos, notadamente metalurgia, fumo e derivados de petróleo.
Outros 33%, a seu turno, cresceram menos nesta entrada de ano. Este foi o caso do Nordeste, que saiu de uma alta de +1,4% no 4º trim/23 para uma variação de apenas +0,4% no 1º trim/24. Na origem deste movimento está a indústria baiana (de +6,9% para +3,3%, respectivamente), sob influência de recuos na metalurgia e minerais não metálicos, que representam quase 20% dela, e da indústria pernambucana, que, como vimos, ficou no vermelho em jan-mar/24
A indústria no Centro-Oeste também perdeu dinamismo, embora tenha mantido alguns dos melhores resultados no trimestre em tela. Mato Grosso, que tinha registrado +8,1% no 4º trim/23, cresceu +6,2% no 1º trim/24 e Goiás, desacelerou de +16,8% para +10,9%, respectivamente.
O restante dos parques industriais apresentou manutenção do ritmo de crescimento na virada do ano, considerada a comparação com o mesmo período do ano anterior. Foram os casos de Rio de Janeiro (+5,9%), Santa Catarina (+3,5%) e Minas Gerais (+2,2%).
Comércio
Depois de um começo de ano de crescimento, as vendas reais do comércio varejista assumiram uma trajetória de desaceleração de modo a chegar em mar/24 em um quadro de estabilidade. O resultado foi de 0% frente a fev/24, já descontados os efeitos sazonais, e de -0,3% se incluídos os ramos de veículos, autopeças, material de construção e atacarejo, isto é, no conceito ampliado do setor.
Foi um mês em que praticamente nenhuma parcela do varejo se salvou. Dos 10 ramos acompanhados pelo IBGE, 9 apresentaram perda nas vendas na série com ajuste sazonal. A única exceção foi o ramo de produtos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria, que cresceu +1,4% frente a fev/24.
Os casos de maior adversidade foram os bens de consumo duráveis, que dependem muito das condições de crédito disponíveis às famílias. As vendas de equipamentos de escritório, informática e comunicação encolheram -8,7% ante o mês anterior, as de móveis e eletrodomésticos, -2,4% e as de veículos e autopeças, -1,4%, sempre com ajuste sazonal.
Embora mar/24 tenha sido um mês “parado”, não se saindo bem igualmente na comparação com mar/23, ao menos em seu conceito ampliado (-1,5%), o agregado do 1º trim/24 trouxe crescimento.
O primeiro aspecto a ser destacado é que o resultado de jan-mar/24 não só é positivo, como é o mais elevado desde que o setor voltou ao azul e isso tanto em seu conceito restrito (+5,9% ante jan-mar/23) como em seu conceito ampliado (+4,6%). A título de comparação, o desempenho no 4º trim/23 foi de +1,3% e +2,6%, respectivamente.
O ponto de atenção é que este crescimento esteve muito concentrado. No 1º trim/24, apenas 4 dos 11 ramos do varejo acompanhados pelo IBGE na comparação interanual (ou 36% deles) conseguiram ampliar vendas, tendo sido a menor parcela no positivo desde o final de 2022, quando o varejo parou de cair. No 4º trim/23, 8 ramos tinham crescido.
O ramo de supermercados, alimentos, bebidas e fumo registrou alta de +8,0% em jan-mar/24 frente a jan-mar/23, dando a maior contribuição ao resultado do comércio varejista ampliado: 2,6 pontos percentuais do crescimento de +4,6% do agregado do setor.
Inflação perdendo força e desemprego em recuo são importantes fatores impulsionadores para esta parcela do varejo, ao que se somam o aumento do salário mínimo e a ampliação de programas de transferências de renda do governo, como o Bolsa Família.
Veículos e autopeças foi outro ramo em expansão. Suas vendas registraram a alta de +9,4%, implicando a segunda maior contribuição ao desempenho total do varejo ampliado (+1,6 p.p.). Como se sabe, o programa de redução de impostos sobre a venda de veículos em meados do ano passado foi essencial para que este ramo passasse a apresentar taxas de variação mais robustas.
Já o ramo de produtos farmacêuticos, ortopédicos e de perfumaria apresentou a maior taxa de crescimento no 1º trim/24 ante o 1º trim/23, de +12,2%, e foi responsável pela terceira maior contribuição positiva à alta de +4,6% do varejo ampliado como um todo: +0,7 ponto percentual. Tal como o ramo de alimentos e bebidas, suas vendas também estão mais associadas à evolução da renda corrente.
Entre aqueles com perdas no acumulado jan-mar/24 encontram-se ramos cujos mercados dependem mais do crédito, como móveis e eletrodomésticos (-0,2%), equipamentos de escritório, informática e comunicação (-0,3%), tecidos, vestuário e calçados (-0,3%) e material de construção (-1,7%).
O ramo de outros artigos pessoais e domésticos, que inclui as lojas de departamento, embora também tenha vendas que, frequentemente, exijam algum crédito, até conseguiu crescer no 1º trim/24, registrando +6,4%, mas isso após sete trimestres consecutivos de queda.
Serviços
Em mar/24, o setor de serviços voltou a se expandir (+0,4%, com ajuste sazonal), ainda que não o suficiente para anular o declínio do mês anterior (-0,9%). Por esta razão, o faturamento real do setor encontra-se em patamar inferior ao de dez/22 (-1,2%) indicando continuidade da fase de acomodação.
Na passagem de fev/24 para mar/24, já descontados os efeitos sazonais, nenhum dos cinco ramos de serviços identificados pelo IBGE registraram perda. A alta de +0,4% do setor como um todo foi puxada principalmente por dois ramos: informação e comunicação (+4,0%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (+3,8%).
O único ramo que não aumentou faturamento foi o de outros serviços, que ficou estável (0%). Os demais também não tiveram um desempenho robusto, mas ao menos cresceram: +0,3% em transportes e seus auxiliares, após dois meses no vermelho, e +0,6% em serviços prestados às famílias, que ainda se recuperam do recuo de -2,8% de jan/24.
Em comparação com um ano atrás, os serviços como um todo caíram -2,3% em mar/24, mas é importante lembrar que há um efeito calendário negativo, já que mar/23 teve três dias úteis a mais. Apesar disso, o 1º trim/24 (+1,2% ante o 1º trim/23) reverteu a tendência de desaceleração trimestral que o setor vinha apresentando e que o levara ao negativo no 4º trim/23 (-0,5%).
Embora 3 dos 5 ramos acompanhados pelo IBGE tenham se saído melhor no 1º trim/24 do que no 4º trim/23, o resultado geral do setor foi revigorado devido principalmente aos serviços de informação e comunicação, que representam quase ¼ do faturamento total dos serviços e progrediram de +1,6% em out-dez/23 para +5,5% em jan-mar/24.
Também em destaque está o ramo de outros serviços, que congrega um conjunto diversificado de atividades. Neste caso, a queda considerável de -4,4% no 4º trim/23 deu lugar a uma expansão de +1,5% no 1º trim/23, alavancada por serviços imobiliários (+4,1%) e serviços financeiros (+1,7%).
Já os serviços prestados às famílias, que na segunda metade do ano passado era um dos poucos que fugiam à regra da desaceleração, ganhou ainda mais intensidade, registrando +5,5% em jan-mar/24 ante jan-mar/23. O segmento de alojamento e alimentação é quem saiu na frente, com +5,8%, enquanto os demais serviços pessoas cresceram menos (+3,5%).
O ramo de serviços profissionais, administrativos e complementares foi outro caso de não desaceleração na segunda metade de 2023, mantendo seu ritmo de crescimento, tal como neste início de 2024. Há três trimestres seguidos cresce em torno de +2,8%. Em jan-mar/24, a alta de +2,9% foi condicionada por serviços técnicos e profissionais (+8,6%), que em geral exigem mais qualificação.
São os transportes e correios que têm arrefecido o desempenho geral dos serviços. Com um peso de pouco mais de 1/3 do setor como um todo, sua queda de -3,6% no 4º trim/23 e de -3,5% no 1º trim/24, tiraram força dos serviços. Nesta entrada de ano, o pior caso foi o do transporte aéreo (-11,5% ante jan-mar/23), seguido por armazenagem, auxiliares de transporte e correios (-7,2%).
Fonte: https://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_1265.html
< Voltar